Há vinte anos, quase não havia cachorros em Pequim. Os poucos que havia corriam o risco de acabar num prato de jantar. É possível encontrar ainda hoje pratos à base de cachorro. Mas é muito mais fácil encontrar pet shops de cachorros, sites de cachorros, redes sociais de cachorros, piscinas para cachorros – mais recentemente, é possível até frequentar cinemas e bares que aceitam cachorros na área de clubes noturnos no centro de Pequim.
Segundo autoridades da cidade, há 900 mil cachorros na cidade, e esse número cresce 10% ao ano. Isso são os registrados. Outros milhares não possuem licença.
A forma como essa transformação ocorreu representa, de certa forma, a história da China moderna. Séculos atrás, a elite chinesa tinha cachorros como animais de estimação; diz-se que o pequinês data dos anos 700 d.C., quando os imperadores chineses o tornaram o cachorro do palácio – e executavam qualquer que pessoa que o roubasse.
No entanto, na era comunista, os cachorros tinham mais um papel de guardas, pastores ou refeições do que companheiros. Dogmas ideológicos e necessidades durante os muitos anos de vacas magras da China renderam aos animais de estimação um caráter de luxo burguês. De fato, depois que os cachorros começaram a aparecer nos lares de Pequim, o governo decretou, em 1983, a proibição na cidade dos cães e sete outros animais, incluindo porcos e patos.
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